Moça de Renda, nome de uma cidade fictícia encravada nas planícies exuberantes do Mato Grosso. De repente, vira-se o autor para o Mato Grosso e passa a elaborar grandes romances, que são rutilância desse mundo fantástico. Tudo gira em torno da elaboração de uma ironia fina e pérfida com relação à introspecção fatal das personagens e sua relação com o mundo. O comportamento humano exibido em sua mais fina crueza. É um livro de tempos antigos, a se imaginar os dias de solidão ao longo dos rios e silêncios de um mundo espectral. Porém, mesmo o nome dessa pequena e apaixonante cidade fictícia, estabelecida no estado do Mato Grosso do Norte, é alguma coisa de espetacular. É como se, no meio de toda a dificuldade inerente ao panorama e a esse mundo quase completamente primitivo, o lugar navegasse a dois palmos do chão. Não é sem razão que este livro é considerado uma das obras-primas de Humberto Henriques. Uma peça literária espontânea, sem nenhum sinal de arrogância verbal ou gramatical, sempre atento o autor ao desmedido comportamento que é sempre possível dentro dos espíritos humanos. O livro é dono de um humor refinado, muitas vezes somente perceptível para aqueles que estão muito atentos à leitura. Estamos dentro deste livro e a uns passos além do grande Guimarães Rosa. Henriques se suplanta neste livro. Depois de Wilhelm & Louis — livro também de Henriques –, pensamos não encontrar nada mais apropinquado. E aí está Moça de Renda.
